terça-feira, 4 de maio de 2010

Experiência de emigração


A Ana saiu do seu país, Espanha, aos 21 anos. Terminou o curso de Enfermagem em Junho e após três meses de trabalho no verão, ficou outros seis sem emprego. Umas amigas disseram-lhe que vinham para Portugal porque ali havia falta de enfermeiras, com a ideia de ir seis meses e depois voltar. Ela achou que seria bom para ganhar alguma experiência profissional, pensando abrir portas no seu país. Em Fevereiro de 2001 vieram para Lisboa, e logo os três hospitais que visitaram lhes ofereceram emprego com entrada imediata e a oito de Março do mesmo ano iniciou funções no Bloco Operatório do Hospital do Desterro. O inicio foi fácil porque mais parecia um estágio do que um trabalho. No hospital foi bem recebida por quase todos os companheiros que me ensinaram a trabalhar no Bloco, uma área completamente nova para ela. Em casa, viveram as três colegas, primeiro num lar para enfermeiras dos Hospitais Civis e depois num apartamento em Campo de Ourique, ao pé do Cemitério dos Prazeres e do Casal Ventoso. Melhor localização era impossível, segundo a imobiliária que lhes alugou a casa. Ela já tinha partilhado apartamento com amigas durante a faculdade, pelo que foi relativamente fácil: tarefas divididas, custos divididos e companhia contínua. Um par de meses depois entraram mais dois enfermeiros espanhóis no seu serviço e criaram uma grande amizade, pois estavam juntos a todo momento. Em Junho, uma das colegas voltou para Espanha com uma depressão e as outras duas mudaram-se para outro apartamento juntamente com outra espanhola e um enfermeiro português que tinham conhecido e com quem se davam muito bem.
Ana diz que os amigos que arranjou aqui eram inseparáveis, iam juntos para todo o lado, provavelmente porque, estavam todos a passar pela mesma experiência, as dificuldades eram as mesmas e uns apoiavam-se nos outros. Diz que os amigos, no início eram todos espanhóis, por um lado porque eles estavam sempre juntos e por outro porque os portugueses são “diferentes”. Uma das maiores diferenças que sentiu está relacionada com o facto de os portugueses se limitarem a uma rotina de trabalho-casa, casa-trabalho e nunca saírem para beber um café depois do expediente ou saírem para uma sexta-feira à noite.
Outras das grandes diferenças foi a forma de vestir, pois todos parecem executivos da bolsa, e a comida, pois come-se a todas as horas e ingerem-se muitos bolos. Também nota outra grande diferença: aqui quase ninguém passeia na rua ao sábado à tarde ou a um domingo, e no entanto os centros comerciais estão cheios. A língua também foi um obstáculo. Ana pensava que ia ser fácil por ser galega mas, pelo contrário, teve muitas dificuldades no início para compreender o que os colegas queriam dizer mas a ler nunca sentiu dificuldades. Hoje já entende tudo o que dizem e mesmo a escrever defende-se bem, só tem muita dificuldade em compreender o português do Brasil que ouve na televisão.
O mais difícil para ela foi, e continua a ser, ter a família longe. Apesar da distância se limitar a 600km, para ela é como estar em outro ponto do mundo. Fala quase todos os dias horas ao telefone com os pais e sempre que arranja uns dias de folga, vai para Espanha. Ela acha que é mais uma distância psicológica por estar fora do seu país do que uma distância física, uma vez que em pouco mais de cinco horas está “em casa”.
Para ela, ao nível pessoal, pouca coisa mudou. É mais independente na tomada de decisões e teve de aprender a viver por ela própria, tomando conta de tudo. Fez-se adulta, diz.
Para ela, Lisboa é uma boa cidade para viver porque é bonita, tem praia perto e no fundo tem tudo o que uma qualquer outra capital europeia tem mas, apesar disso, diz gostar mais da sua cidade, pequena, onde tudo é perto e onde é difícil não ver um conhecido quando se dá uma voltinha. Só o clima de Lisboa é que é melhor pois aqui chove muito menos e faz menos frio.
Ana gosta muito do seu trabalho, agora no Bloco Central do Hospital Curry Cabral, onde é reconhecida e respeitada, mas nunca tira da cabeça a ideia de voltar para Espanha. Diz que se conseguir um bom posto de trabalho lá, terá de convencer o seu namorado para voltar com ela para Espanha.

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