sexta-feira, 28 de maio de 2010

Renault 4L



O equipamento que seleccionei é a Renault 4l, automóvel que está bem presente na minha vida.
O Renault 4L foi apresentado no Salão de Frankfurt de 1961 tendo cativado, desde logo, a imprensa especializada. No final dos anos 50, os carros populares que faziam sucesso em França eram o Citroën 2CV, projectado em 1936 e lançado em 1948, e o Renault 4CV, cujo lançamento datava de Agosto de 1947. Para a necessária substituição do velhinho Renault, Pierre Dreyfus (presidente) reuniu a sua melhor equipa de técnicos e engenheiros. Dreyfus exigiu-lhes um automóvel simples, moderno, barato e funcional, capaz de atender a tudo e todos, eficaz em estradas e no campo. Estava também definido que o novo Renault teria por volta de 600 cm3 e 20cv e que herdaria boa parte da mecânica do 4CV, mas a tracção seria obrigatoriamente dianteira, o primeiro Renault com esta configuração.
O Renault 4L começou a ser produzido em 1961 e deixou de ser produzido em 1993! Foram construídos mais de 8 milhões de unidades, o que faz do Renault 4L o terceiro carro mais vendido da história. O Renautl 4L foi fabricado um pouco por todo o mundo. Em Portugal, foi na cidade da Guarda, em 1963, que se construiu a primeira fábrica da Renault em território português e em 1964 saíram as primeiras unidades do Renault 4L.





Originalmente vinha equipado com um motor de 747 cc de 27 CV e 3 velocidades. Mas apresentava um avanço técnico: o circuito fechado de refrigeração. Ao longo dos anos foram feitas muitas alterações ao nível da estética, que foi sendo melhorada, bem como os interiores, ao nível mecânico, com a utilização de motores com maior cilindrada e maior potência assim como a adopção de uma caixa de 4 velocidades.
. O capot abria-se de trás para a frente e a suspensão era independente nas quatro rodas, com barras de torção em ambos os eixos. E tinha uma característica pioneira: o primeiro sistema de refrigeração selado do mundo, que evitava a perda e consequente reposição do liquido de refrigeração. Uma peculiaridade do novo Renault 4L era a distância entre eixos maior no lado direito, 2,45 contra 2,40 metros, uma imposição do tipo de suspensão traseira.
Por dentro, a 4L era extremamente simples. Acomodava bem quatro passageiros em bancos muito simples, que só tinham forro, sendo que a estrutura era visível por trás e de lado. O espaço para bagagem também era razoável, podendo chegar a 950 litros sem assentos traseiros. À frente do volante de três raios ficavam apenas o velocímetro, o marcador de combustível e o retrovisor no centro do painel do habitáculo.
Em 1962 era lançada a versão Super e passava a existir uma motorização de 747 cm3 de 27 cv. Um novo câmbio de quatro marchas estava também disponível e a velocidade máxima rompia agora os 100 km/h. Outra novidade era a versão Fourgonette (carrinha em francês) que tinha a capacidade de carga aumentada. A parte traseira era mais alta e mais larga a cabine e o cliente podia optar por porta traseira de abertura lateral ou vertical bipartida.
Em 1964 eram atingidas as primeiras 500 000 unidades matriculadas. A versão de passageiros da versão Fourgonette apenas veio em 1965. Neste ano chegava também a versão Parisiénne, criada em parceria com a revista feminina Elle. Esta versão tinha a particularidade de ter, nas laterais, uma pintura quadriculada escocesa, vermelha e preta, ou com tons bege e preto. Nesta versão os bancos dianteiros eram individuais. Era bastante bonito, chamava a atenção e tinha um certo charme, principalmente diante do público feminino. O motor crescia, passava a 845 cm3 e 34 cv. A velocidade máxima era agora de 115 km/h. Um ano depois o R4 ganhava uma grade maior, com aspecto mais moderno, que ocupava toda a largura da frente. O painel era redesenhado e todos os bancos ganhavam forras integrais. No inicio de 1966 o primeiro milhão de unidades matriculadas foi atingido.
Em Setembro de 1970 o modelo Rodeo era apresentado, de desenho muito simples e com mecânica do R4, tinha carroçaria em plástico reforçado com fibra-de-vidro. Tinha duas portas e capota de lona. Era um concorrente directo do Mehari, derivado do Citroën 2CV. A concorrência começava a aumentar. Na mesma faixa de preço, além dos antigos "inimigos", estavam também Ford Escort, o Opel Kadett e o Fiat 127.


Em 1975 o R4 ganhava novos pára-choques e a grade tornava-se rectangular. O novo painel, com acabamento quase todo preto, era maior e mais seguro, com protecção de borracha. A alavanca de câmbio e o retrovisor continuavam no mesmo sítio. Os bancos estavam mais anatómicos, confortáveis e com encostos para a cabeça. Em 1977 eram celebradas cinco milhões de unidades produzidas. Número que confirmava o sucesso alcançado pelo pequeno Renault.
Travões dianteiros de disco eram introduzidos em 1983, bem como um motor de maior cilindrada, que equipava uma nova versão denominada GTL, com 1.108 cm3, 34 cv às 4.000 rpm e velocidade final de 122 km/h. Em 1991 existiam as versões TL, GTL e GTL 4x4, com tracção nas quatro rodas. Foi um carro bastante comum nos correios e nas empresas de entrega rápida, mas também podia ser encontrado frequentemente nos quartéis da polícia e dos bombeiros. A Renault 4L é um dos carros mais vendidos com mais de 8 milhões de viaturas matriculadas.
Em 1993 sai uma última série de 1000 R4, a Renault 4 "Bye-Bye", cada uma com uma placa numerada em contagem decrescente.
A título de curiosidade, um Renault 4 GTL chegou a participar em vários ralis do Mundial e em duas edições do Rali de Portugal (1997 e 1998) sempre conduzido por um piloto português, António Pinto dos Santos. No Rali de Portugal, em 1997, ficou em 33º lugar e em 1998 ficou no 47º lugar. Em 1998 teve outras participações em ralis do Mundial: 58º no Rali da Acrópole; 81º no RAC. Em 1999 participou em mais alguns ralis: 85º na Volta à Córsega; 64º no Rali dos 1000 Lagos; 55º no Rali de San Remo. No ano 2000 voltou a participar em mais alguns ralis do Mundial: 54º no Rali da Suécia; 55º no Rali da Catalunha; 48º no Rali da Acrópole. No ano de 2000 ainda participou no Rali Vinho da Madeira, para o Campeonato Europeu de Ralis, tendo terminado no 51º e último lugar.
Teve o mérito de terminar todos os ralis do Mundial em que participou, quase sempre na última posição, com excepção do Rali de Portugal de 1997 e do Rali da Acrópole de 1998 (foi o penúltimo nestes dois ralis) e também participou no Paris Dakar de 79.
A Renault 4l é um automóvel com um formato semelhante ao de outros automóveis mas com uma particularidade: tem o piso completamente plano e a distância entre eixos não é igual do lado esquerdo para o direito (isto quer dizer que a distância da roda da frente para a roda de trás do lado direito é diferente da do lado esquerdo).
A Renault 4 é o meu carro do dia-a-dia, muito prático, cómodo e resistente. Tem uma manutenção barata e não tem equipamento electrónico. Tem as dimensões perfeitas para a cidade e desenrasca-se muito bem fora de estrada para umas brincadeiras. A 4l não deixa de ser um carro confortável e de condução agradável mas, para os dias de hoje, já lhe falta muita coisa. A maior falha situa-se ao nível da segurança, mais concretamente numa hipotética situação de impacto, pois o condutor fica desprotegido. No entanto, é inegável que no que diz respeito à condução está muito bem concebido, até porque as suspensões a tornam agradável. A Renault 4l, na minha opinião, ainda não se pode comparar ao Mini, Carocha, Fiat 600 e 2 Cavalos mas já começa a deixar a sua marca e a ganhar algum respeito no mundo automóvel clássico. É um carro com história e com muitos admiradores no mundo. Devido ao seu formato e desempenho fora de estrada é muito apreciado por pessoas que gostam de passeios fora de estrada.
Todos os anos se realiza uma prova (Trophy 4l) que movimenta milhares de Renault 4l´s e ainda mais jovens estudantes, principalmente de França e da Bélgica, que preparam as suas 4l´s para uma aventura que começa em França e acaba em Marrocos com o objectivo de solidariedade para com o povo marroquino, levando muito material educativo e outros bens. A Renault 4l é um carro que, desde a sua existência, foi bem recebido pelo público em geral. Um dos aspectos que o tornou um dos carros mais vendidos no mundo foi a adopção por parte de várias empresas e entidades oficiais: Correios, TAP, EDP, EPAL, Bombeiros, Câmaras Municipais, GNR e muitas outras, em todo o mundo. Isto aconteceu por ser um automóvel com características muito versáteis, de baixo custo, resistente e de manutenção barata.
O equipamento que escolhi não é um símbolo de sucesso nem tão pouco revela algum destaque social. Quando surgiu era um simples automóvel de trabalho e para pessoas de poucas posses.
Inicialmente a estética do carro não foi a parte mais cuidada, uma vez que na produção foi mais importante o aspecto prático, a simplicidade e a fácil e barata manutenção. No entanto, a sua simplicidade estética foi bem recebida em todo o mundo, tendo vendido 8 milhões de unidades. O difícil é fazer simples e bem.
Em 2011 a Renault 4L faz 50 anos de existência. No seu início ninguém olhava para a 4L com agrado ou simpatia, era simplesmente um carro e em cada esquina havia um. Em Portugal nos anos setenta e oitenta era um carro que equipava muitas empresas oficiais e havia muitas a circular. Hoje já não são assim tantas e cada vez se vêem menos. Foi um carro que alguém da família teve ou usou no trabalho e que na altura era invisível mas hoje é recordada e quando se vê uma a passar desperta a atenção, é vista com simpatia e agrado. Pela sua simplicidade tornou-a num carro engraçado.
A Renault 4l é o meu carro preferido, pois gosto da sua simplicidade e desempenho. Em Janeiro de 2006 finalmente comprei uma, realizando um sonho que me seguia desde os tempos de escola, altura em que um amigo possuía uma. Foi um carro que me despertou a atenção por razões para as quais não tenho explicação. Desde que a comprei nunca mais parei de procurar tudo a seu respeito: história, evolução, manutenção; miniaturas, a revista francesa 4L Magazine e, quando vou a alguma feira, tenho sempre a atenção de ver se encontro algo relacionado com este carro (miniaturas, postais, brinquedos… qualquer coisa).
A 4L para mim, não é só um carro, é mais que isso. Tenho uma relação inexplicável com ela. Sempre que me sento e a conduzo, sinto algo de diferente que não me acontece nos outros carros, mas tenho que confessar que sou um bocado suspeito porque sinto empatia por tudo que tem alguns anos e quanto mais tempo tenho uma coisa, mais me apego a ela e isto passa-se também com a 4L.
Estou inscrito nos dois clubes que existem em Portugal: a Confraria de Amigos da 4L e o Clube 4 Portugal, participando em vários encontros e passeios e ajudando a organizar outros. Desde que comprei a 4L a minha vida mudou um pouco, não sou dependente do carro mas a verdade é que comecei a participar em encontros e passeios e fui criando amizades novas por todo o país, o que não deixa de ser interessante. Fiz inclusivamente férias participando no 1º Encontro Internacional de Renault 4L em França, perto de Paris, onde fui o único a fazer a viagem desde Portugal (fiz num dia 1700Km, com a ânsia de chegar). Após o encontro aproveitei os quilómetros feitos e passei mais uma semana a percorrer a costa da Normandia e Bretanha.
Apesar de tudo, o passeio mais marcante foi o de Lisboa a Marraquexe, “Não foi uma simples viagem a Marrocos, nem tão pouco umas férias bem passadas; mas sim um momento de oito dias e noites de um prazer inesquecível para todos os quatrelistas que vão ter esta expedição bem presente para o resto das suas vidas: se há momentos eternos na vida este foi sem dúvida um deles!” (Confraria Amigos 4l, Revista Topos e Clássicos nº74 Junho 07).


Fontes:
http://www.renaultpt.com/index.php?topic=75.5;wap2
http://4rodinhas.blogspot.com/2007/02/renault-4l-1964.html

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